Missão Católica de Língua Portuguesa de Münster

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ANO C


2.º DOMINGO DA QUARESMA

Tema do 2.º Domingo da Quaresma

As leituras deste domingo têm como tema principal a fé. Em tempo de Quaresma somos convidados a revitalizar a nossa fé, a confiar de olhos fechados em Deus e nas suas propostas. Pode ser que, à luz da lógica humana, os caminhos que Deus nos aponta pareçam estranhos e ilógicos; mas eles conduzem, indubitavelmente, à vida verdadeira e eterna.

primeira leitura apresenta-nos Abraão, o modelo do crente. Ele confiou plenamente em Deus, mesmo quando as promessas de Deus pareciam inverosímeis; e não saiu defraudado. Com Abraão, somos convidados a “acreditar”, isto é, a viver numa atitude de confiança total, de aceitação radical, de entrega plena aos desígnios desse Deus que não falha e é sempre fiel às suas promessas.

No Evangelho Jesus pede aos discípulos que confiem n’Ele e que ousem segui-l’O no caminho de Jerusalém. Esse caminho, embora passe pela cruz, conduz à ressurreição, à vida nova e eterna. Aos discípulos, relutantes e assustados, Deus confirma a verdade da proposta de Jesus: “Este é o meu Filho, o meu Eleito. Escutai-O”. É uma proposta que também nós somos convidados a abraçar.

Na segunda leitura Paulo de Tarso pede aos cristãos da cidade de Filipos que não se limitem a uma vivência religiosa feita de práticas externas e de gestos vazios. Os crentes verdadeiros são aqueles que vivem de olhos postos no Senhor Jesus, aquele que “transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso”. Os filipenses e os cristãos de todas as épocas e lugares, devem caminhar para Ele sem hesitação, firmes na fé e guiados pela Boa Nova da salvação.

 

LEITURA I – Génesis 15,5-12.17-18

Naqueles dias,
Deus levou Abrão para fora de casa e disse-lhe:
«Olha para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar».
E acrescentou:
«Assim será a tua descendência».
Abrão acreditou no Senhor,
o que lhe foi atribuído em conta de justiça.
Disse-lhe Deus:
«Eu sou o Senhor
que te mandou sair de Ur dos caldeus,
para te dar a posse desta terra».
Abrão perguntou:
«Senhor, meu Deus,
como saberei que a vou possuir?»
O Senhor respondeu-lhe:
«Toma uma vitela de três anos,
uma cabra de três anos e um carneiro de três anos,
uma rola e um pombinho».
Abrão foi buscar todos esses animais,
cortou-os ao meio
e pôs cada metade em frente da outra metade;
mas não cortou as aves.
Os abutres desceram sobre os cadáveres,
mas Abrão pô-los em fuga.
Ao pôr do sol,
apoderou-se de Abrão um sono profundo,
enquanto o assaltava um grande e escuro terror.
Quando o sol desapareceu e caíram as trevas,
um brasido fumegante e um archote de fogo
passaram entre os animais cortados.
Nesse dia, o Senhor estabeleceu com Abrão uma aliança,
dizendo:
«Aos teus descendentes darei esta terra,
desde o rio do Egipto até ao grande rio Eufrates».

 

CONTEXTO

A primeira leitura de hoje faz parte de um bloco de textos a que se dá o nome genérico de “tradições patriarcais” (cf. Gn 12-36). Trata-se de um conjunto de relatos singulares, originalmente independentes uns dos outros, sem grande unidade e sem carácter de documento histórico. Nesses capítulos aparecem, de forma indiferenciada, “mitos de origem” (descreviam a “tomada de posse” de um lugar pelo patriarca do clã), “lendas cultuais” (narravam como um deus tinha aparecido nesse lugar ao patriarca do clã), histórias sobre as vicissitudes diárias dos clãs nómadas que circularam pela Palestina durante o segundo milénio, e ainda reflexões teológicas posteriores destinadas a apresentar aos crentes israelitas modelos de vida e de fé.

Os clãs referenciados nas “tradições patriarcais” – nomeadamente os de Abraão, de Isaac e de Jacob, grupos vagamente aparentados que mais tarde, numa fase posterior da história, aparecem ligados por laços “familiares” – viajavam de lugar em lugar à procura de pastos para os seus rebanhos. Levavam consigo diversos sonhos e expetativas. Sonhavam encontrar uma terra fértil e com água abundante, onde pudessem instalar-se e descansar, fugindo aos perigos e às incertezas da vida nómada. Sonhavam também possuir uma família forte e numerosa que perpetuasse a “memória” da tribo e se impusesse aos inimigos. O deus ancestral que protegia a tribo e a conduzia ao longo das suas deambulações era o potencial concretizador desse ideal.

A primeira leitura do segundo domingo da quaresma coloca-nos precisamente neste cenário. Abraão, um dos patriarcas desses clãs nómadas, conversando com Deus, refere a sua deceção porque a sua vida está a chegar ao fim e ainda não tem um filho que lhe perpetue o nome. A herança que vai deixar, tudo aquilo que construiu, irá ficar para um servo, um tal Eliézer, de Damasco (cf. Gn 15,2-3). Conhecemos contratos do séc. XV a. C. que parecem iluminar esta realidade: estipulam que, em caso de falta de filhos, o senhor possa adotar um escravo; e este, por sua vez, compromete-se a dar ao seu senhor uma sepultura conveniente. Talvez seja a esse costume que o texto alude.

Que terá Deus a dizer ao seu servo Abraão?

 

MENSAGEM

Deus reitera a Abraão a promessa que lhe tinha feito quando o convidou a deixar a sua terra e a sua família (cf. Gn 12,2: “farei de ti um grande povo”): ele terá um filho, um descendente que continuará a sua linhagem (cf. Gn 15,4). Convidando depois Abraão a sair da tenda (ou, talvez, do santuário onde aconteceu a visão descrita), Deus acrescenta: “olha para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar. Assim será a tua descendência” (Gn 15,5).

Depois da garantia de Deus, o narrador deixa Abraão a contemplar em silêncio o céu estrelado e volta-se para o leitor, comunicando-lhe os seus próprios juízos teológicos (cf. Gn 15,6): Abraão “acreditou no Senhor, o que lhe foi atribuído em conta de justiça” (Gn 15,6). Abraão, apesar da demora na concretização da promessa de Deus, não retirou a sua fé, a sua plena confiança em Deus. A fé (a palavra usada no texto hebraico é o verbo “aman”, que significa “estar firme”, “ser leal”, “acreditar plenamente”) de que aqui se fala traduz uma atitude de confiança total, de aceitação radical, de entrega plena aos desígnios de Deus; a “justiça” é um conceito relacional, que exprime um comportamento correto no que diz respeito a uma relação comunitária existente: aqui, significa o reconhecimento de que Abraão teve um comportamento correto na sua relação com Javé, ao confiar totalmente em Deus e ao aceitar os seus planos sem qualquer dúvida ou discussão.

Definida a “qualidade” da “fé” de Abraão, Deus acrescenta um elemento que, no contexto das histórias patriarcais, normalmente aparece incluído na “promessa”: a garantia de uma terra (cf. Gn 15,7). Deus – esse Deus que mandou Abraão sair de Ur dos caldeus, e o conduziu para a terra de Canaan – irá concretizar oportunamente todos os sonhos do seu servo Abraão. Deus é fiel, não dececiona quem nele confia. A confiança que Abraão depositou em Deus não será defraudada.

Na segunda parte do relato apresentado pelos catequistas de Israel (e que a liturgia deste dia não reporta na sua totalidade), refere-se um misterioso cerimonial, frequentemente associado a compromissos entre duas pessoas ou entidades: a celebração de um rito de “aliança” (cf. Gn 15,9-17). O referido ritual, conhecido sob esta ou outra forma semelhante em numerosos povos antigos, selava o compromisso entre os parceiros ligados pela “aliança”. Sacrificavam-se animais (neste caso, “uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um carneiro de três anos, uma rola e um pombo ainda novo” – Gn 15,9), cortavam-se os animais ao meio e colocavam-se as duas metades frente a frente; quem subscrevia a aliança passava entre as duas metades dos animais imolados e pronunciava contra si próprio uma espécie de maldição, para o caso de ser responsável pela quebra do pacto. Apresentando a “aliança” entre Deus e Abraão segundo o modelo que, nos compromissos humanos, garantia a máxima firmeza contratual, o catequista bíblico acentua a ideia de um compromisso solene e irrevogável que Deus assume com Abraão. A promessa de Deus fica assim totalmente garantida.

Repare-se, ainda, num pormenor final: Deus não exigiu nada a Abraão, em troca, nem Abraão teve que passar no meio dos animais mortos (só Deus passou, no “fogo ardente”). A promessa de Deus a Abraão é, pois, totalmente gratuita e incondicional. A fidelidade de Deus é uma realidade irrevogável, seja qual for a atitude do homem.

 

INTERPELAÇÕES

  • Abraão é apresentado, não apenas neste relato, mas em diversos outros passos das tradições patriarcais, como o homem que confia plenamente em Deus. O seu tempo de vida vai-se escoando, a sua mulher Sara é estéril e já não tem idade para ser mãe, o nascimento de um filho que lhe assegure a descendência parece cada dia mais improvável; mas Abraão, contra toda a lógica humana, confia em Deus e nas suas promessas. Entrega toda a sua vida e toda a sua esperança nas mãos de Deus, convencido de que Deus nunca o desapontará. Abraão é o crente ideal, o modelo para os crentes de todas as épocas. Desde Abraão até aos nossos dias passaram quase quatro mil anos. Desde então fizemos um longo caminho, sempre acompanhados pelo olhar paterno e materno de Deus. Mais: frequentamos a escola de Jesus; e Jesus ensinou-nos a confiar em Deus como uma criança pequenina confia no seu “papá”. Depois de tudo isso, a que nível está a nossa confiança em Deus? Estamos sempre dispostos – mesmo em situações que não compreendemos ou que contradizem as nossas lógicas e as nossas ideias feitas – a entregar-nos nas mãos de Deus, a confiar nos seus desígnios, a aderir às suas propostas?
  • O Deus que se revela a Abraão é um Deus que se compromete com o homem e cujas promessas são garantidas, gratuitas e incondicionais. Ele não cumpre as suas promessas apenas se nós cumprirmos as nossas: Deus mantém as suas promessas mesmo que nós escolhamos percorrer caminhos de egoísmo e de autossuficiência, ignorando as indicações que Ele nos dá. Com paciência e amor de pai, Deus insiste em vir ter connosco e em apontar-nos os caminhos que conduzem à vida e à salvação. Que efeitos tem, no desenrolar da nossa vida, essa fidelidade de Deus? É algo em que não pensamos, ao qual ficamos indiferentes, ou é algo que nos ajuda a construir a nossa existência com serenidade e confiança? Vemos a fidelidade de Deus como um “cheque em branco”, que podemos utilizar para fazer o que nos apetecer, ou como algo que nos compromete e nos convida a caminhar com Deus?
  • A catequese de Israel apresenta sempre Abraão como um homem em permanente diálogo com Deus. Abraão partilha com Deus os seus sonhos e esperanças, as suas dificuldades na luta diária da existência; mas também escuta Deus, acolhe as suas indicações, vive ao ritmo das propostas de Deus. Talvez esta descrição que os catequistas de Israel fazem do seu patriarca seja um tanto idealizada; mas mostra aos crentes israelitas – e a nós também – que a vida deve ser vivida em permanente diálogo com Deus. Em tempo de quaresma – de conversão, de regresso a Deus – talvez seja uma sugestão que podemos considerar. Estamos dispostos, neste tempo de quaresma, a dar mais espaço ao diálogo com Deus, à escuta de Deus?

 

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 26 (27)

Refrão: O Senhor é a minha luz e a minha salvação.

O Senhor é minha luz e salvação:
a quem hei de temer?
O Senhor é protetor da minha vida:
de quem hei de ter medo?

Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica,
tende compaixão de mim e atendei-me.
Diz-me o coração: «Procurai a sua face».
A vossa face, Senhor, eu procuro.

Não escondais de mim o vosso rosto,
nem afasteis com ira o vosso servo.
Não me rejeiteis nem abandoneis,
meu Deus e meu Salvador.

Espero vir a contemplar a bondade do Senhor
na terra dos vivos.
Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor.

 

LEITURA II – Filipenses 3,17-4,1

Irmãos:
Sede meus imitadores
e ponde os olhos naqueles
que procedem segundo o modelo que tendes em nós.
Porque há muitos,
de quem tenho falado várias vezes
e agora falo a chorar,
que procedem como inimigos da cruz de Cristo.
O fim deles é a perdição:
têm por deus o ventre,
orgulham-se da sua vergonha
e só apreciam as coisas terrenas.
Mas a nossa pátria está nos Céus,
donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
que transformará o nosso corpo miserável,
para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso,
pelo poder que Ele tem
de sujeitar a Si todo o universo.
Portanto, meus amados e queridos irmãos,
minha alegria e minha coroa,
permanecei firmes no Senhor.

 

CONTEXTO

A cidade de Filipos, situada na Macedónia oriental, era uma cidade próspera, com uma população constituída maioritariamente por veteranos romanos do exército. Organizada à maneira de Roma, estava fora da jurisdição dos governantes das províncias locais e dependia diretamente do imperador. Gozava dos mesmos privilégios das cidades de Itália e os seus habitantes tinham cidadania romana. Paulo chegou a Filipos pelo ano 49 ou 50, no decurso da sua segunda viagem missionária, acompanhado de Silvano, Timóteo e Lucas (cf. At 16,1-40). Da sua pregação nasceu a primeira comunidade cristã em solo europeu.

A comunidade cristã de Filipos era uma comunidade entusiasta, generosa, comprometida, sempre atenta às necessidades de Paulo e do resto da Igreja (como no caso da coleta em favor da Igreja de Jerusalém – cf. 2 Cor 8,1-5). Paulo nutria pelos cristãos de Filipos um afeto especial; e os filipenses, por seu turno, tinham Paulo em grande apreço. Apesar de tudo, a comunidade cristã de Filipos não era perfeita: os altivos patrícios romanos de Filipos tinham alguma dificuldade em assumir certos valores como o desprendimento, a humildade e a simplicidade.

Paulo escreve aos Filipenses numa altura em que estava na prisão (não sabemos se em Cesareia, em Roma, ou em Éfeso). Os filipenses tinham-lhe enviado, por um membro da comunidade chamado Epafrodito, uma certa quantia em dinheiro, a fim de que Paulo pudesse prover às suas necessidades. Na carta, Paulo agradece a preocupação dos filipenses com a sua pessoa (cf. Fl 4,10-20); exorta-os a manterem-se fiéis a Cristo e a incarnarem os valores que marcaram a vida de Cristo.

O texto que nos é proposto como segunda leitura faz parte de um longo desenvolvimento (cf. Flp 3,1-4,1), no qual Paulo alerta os Filipenses para que tenham cuidado com “os cães”, os “maus obreiros”, os “falsos circuncidados” (cf. Flp 3,2). Quem são estes, a quem Paulo se refere de uma forma tão pouco delicada? Muito provavelmente são cristãos de origem judaica (“judaizantes”) que, apegados às suas tradições religiosas, exigiam aos cristãos o cumprimento integral da Lei de Moisés. No tempo de Paulo, esses judeocristãos, com as suas exigências e intolerância, criavam alarme e perplexidade nas comunidades cristãs do mundo helénico. Confundiam os cristãos, criavam conflitos e punham em causa o essencial da fé. As duras palavras de Paulo resultam da sua revolta ao ver a ação dessa gente. Paulo estava convicto de que a vida cristã não é o cumprimento de ritos externos, como são os ritos da Lei; mas é a adesão à proposta gratuita de salvação que Deus nos faz em Jesus.

 

MENSAGEM

Paulo, passando pela cidade de Filipos, anunciou o Evangelho de Jesus aos filipenses. Foi para eles como que um “treinador”, que os preparou para o desafio da vida cristã. Da sua parte, Paulo tem consciência de que ainda não alcançou o seu objetivo; sabe que a sua corrida continua, em direção à meta que é o encontro com o Senhor Jesus (cf. Flp 3,12-14). E os filipenses? Paulo convida-os a terem os mesmos sentimentos que ele próprio tem e a continuarem a correr em direção a Cristo (cf. Flp 3,15-16).

Paulo pede aos filipenses que, na sua “corrida”, continuem a seguir as indicações que Paulo lhes deixou (“sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo que tendes em nós” – Flp 3,17). Há outros “treinadores” que apareceram recentemente em Filipos e que pretendem dirigir a “corrida” dos filipenses: são esses “judaizantes” que procuram impor aos cristãos as práticas da Lei de Moisés. Apresentam-se com arrogância e garantem ter um conhecimento total de Cristo e da sua proposta de salvação. Mas desprezam Paulo e acusam-no de ter anunciado um Evangelho truncado, incompleto, falso. Paulo considera-os “inimigos da cruz de Cristo” (Flp 3,18) e tem medo que eles tragam bastante mal àqueles que acolherem as suas exigências (“o seu fim é a perdição” – Flp 3,19).

Esses “judaizantes”, apesar de se apresentarem como donos da verdade, são gente equivocada, que vive de olhos postos na terra. Paulo usa a ironia para os caraterizar: “têm por deus o ventre, orgulham-se da sua vergonha e só apreciam as coisas terrenas” (Flp 3,19). Na verdade, passam o tempo a discutir quais são os alimentos puros e impuros, segundo um complicado código legal que herdaram de Moisés (“têm por deus o ventre”) e fazem da circuncisão uma questão fundamental para a fé (“orgulham-se da sua vergonha”: aqui a palavra “vergonha” é um termo para designar os órgãos sexuais). Vivem, portanto, de forma absolutamente “rasteira”, de olhos postos nas realidades deste mundo. Paulo, em contrapartida, quer que os seus queridos filhos de Filipos vivam de olhos postos no céu, na “cidade” para onde todos são chamados a caminhar a fim de se encontrarem com o Senhor Jesus (Flp 3,20). É para essa realidade que Paulo, o “treinador” dos filipenses, aponta.

Depois deste alerta de Paulo, as coisas estão claras. Os filipenses e os cristãos de todas as épocas e lugares sabem que devem permanecer “firmes no Senhor” (Flp 4,1), correndo, ao ritmo do Evangelho, ao encontro da meta final, do seu destino definitivo.

 

INTERPELAÇÕES

  • Os “judaizantes” que Paulo denuncia na Carta aos Filipenses reduziam a fé à observância de determinadas práticas externas e ritualistas, que provinham das tradições e da cultura de um povo, mas pouco ou nada contribuíam para aproximar os crentes de Deus. Enquanto faziam finca-pé em coisas sem importância, acabavam por colocar em plano secundário aquilo que era essencial. Trata-se de uma “tentação” que se apresenta a cada passo no caminho dos crentes: reduzir a vivência da fé a um conjunto de coisas “palpáveis”, que se executam mecanicamente, que se “despacham” num instante e que não implicam grandes “investimentos”. Cumpridos os gestos que a lei estipula, o crente sente-se em regra com Deus e com a sua própria consciência e evita aquilo que é realmente exigente: a mudança do coração, o compromisso com Jesus e com o Evangelho, o acolhimento dos desafios sempre novos de Deus. Como vivemos a nossa fé? Limitamo-nos a cumprir determinadas práticas religiosas tradicionais, ou procuramos ir ao fundo das coisas e encontrar o caminho para nos aproximarmos realmente de Deus? Neste tempo quaresmal, por exemplo, a que é que damos mais importância: aos “jejuns” e “abstinências” estipulados pela tradição da Igreja, ou à conversão, à mudança de vida, à escuta mais atenta de Deus, ao seguimento de Jesus?
  • A expressão usada por Paulo para falar dos “judaizantes” – “têm por deus o ventre, orgulham-se da sua vergonha e só apreciam as coisas terrenas” – faz-nos pensar nas pessoas, religiosas ou não, que vivem de olhos postos nas realidades rasteiras e banais e descuram as realidades imperecíveis: são as pessoas que se limitam a “aproveitar o instante”, sem qualquer horizonte de eternidade; são as pessoas que se preocupam apenas com o seu bem estar e vivem indiferentes à sorte dos outros homens e mulheres; são as pessoas que procuram dar uma boa imagem de si próprias, mesmo que essa imagem não corresponda àquilo que são; são as pessoas que se limitam a cumprir o que está estipulado por uma lei qualquer (como aqueles “judaizantes” que os filipenses conheciam), mas deixam passar o que é essencial, aquilo que as faz mais livres e que poderia dar um sentido mais pleno às suas vidas… Como nos situamos em relação a isto? Vivemos “a prazo”, com horizontes limitados, ou estamos empenhados em construir uma vida voltada para as coisas verdadeiras e eternas?
  • Paulo considera a vida uma corrida de fundo em direção a uma meta que é o encontro com Cristo Jesus. Ele está consciente de que, enquanto caminhar na terra, a corrida não estará terminada: tem de continuar a esforçar-se para atingir a meta final. Paulo tem razão: não podemos, a dado momento, determo-nos a gozar as nossas conquistas, convencidos de que já está tudo feito e consolidado. Em cada passo da nossa vida temos de renovar a nossa opção por Deus e continuar os nossos esforços em direção à vida nova e eterna. Somos gente acomodada, convencida de que já “correu” o suficiente e que agora pode viver de rendimentos, ou somos gente que dia a dia, passo a passo, procura acolher os desafios sempre novos de Deus e corresponder àquilo que Deus espera de nós?

 

ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO

Refrão 1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.

Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.

Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.

Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.

Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.

Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.

Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.

No meio da nuvem luminosa, ouviu-se a voz do Pai:
«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O».

 

EVANGELHO – Lucas 9,28b-36

Naquele tempo,
Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago
e subiu ao monte, para orar.
Enquanto orava,
alterou-se o aspeto do seu rosto
e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente.
Dois homens falavam com Ele:
eram Moisés e Elias,
que, tendo aparecido em glória,
falavam da morte de Jesus,
que ia consumar-se em Jerusalém.
Pedro e os companheiros estavam a cair de sono;
mas, despertando, viram a glória de Jesus
e os dois homens que estavam com Ele.
Quando estes se iam afastando,
Pedro disse a Jesus:
«Mestre, como é bom estarmos aqui!
Façamos três tendas:
uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias».
Não sabia o que estava a dizer.
Enquanto assim falava,
veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra;
e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem.
Da nuvem saiu uma voz, que dizia:
«Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O».
Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho.
Os discípulos guardaram silêncio
e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.

 

 

Fonte: dehonianos.pt